terça-feira, 14 de outubro de 2014

WHATSAPP E FACEBOOK VIRÃO PROTAGONISTAS E PALCO DE BRIGAS DE ELEITORES DE DILMA E AÉCIO

Chegado ao segundo turno em desvantagem na corrida eleitoral, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves (PSDB), tenta virar o jogo contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, pelas redes sociais. De acordo com levantamento da consultoria Conversion, o tucano tem 10% a mais de engajamento nas mídias online do que a sua concorrente.


Integrante do exército tucano nas redes, Carlos Henrique Almeida, de 22 anos, é estudante de Direito e diz fazer parte de três grupos no WhatsApp que repassam conteúdo online da campanha de Aécio.




“Eu passo tudo que vem desses grupos para pessoas que eu sei que vão repassar para outros amigos. São imagens e vídeos curtos. Recebo, em média, 20 imagens por hora”, conta.

A militância virtual, no entanto, já deixou gente insatisfeita entre os amigos de Carlos. “Eu acho que já perdi uns quatro amigos por causa de política. Mas pedi para eles não misturarem as coisas, amizade é amizade, política é política”, diz.


Quando reclamam das imagens de militância, eu digo que enviei sem querer
Carlos Henrique, 22 anos, estudante de Direito e apoiador de Aécio Neves (PSDB)

Mas nem os pedidos para parar impedem o futuro advogado. “Quando reclamam eu digo que foi sem querer”, confessa. A estratégia, segundo ele, traz votos, sim. “Você manda imagem e a pessoa lê aqui constantemente e acaba mudando de opinião”, acredita.

Outro que acredita na “mudança” através das redes é o deputado federal Antônio Imbassahy (PSDB). Na política há quase 25 anos, o tucano recebeu mais de 120 mil votos este ano e atribui parte deles à sua atuação no WhatsApp e Facebook.




“Eu acho que numa eleição feito essa, em que é preciso passar informações claras e limpas, a rede social é fundamental. Tive bons votos graças ao trabalho no Facebook e tenho certeza que vamos ganhar a eleição com auxilio determinante dessas novas mídias”, afirma o tucano.


Apesar de animar políticos e militantes, o uso do WhatsApp não é consenso entre os estudiosos da área. Mestrando em Ciência Política na Universidade de Montreal, Fernando Feitosa não acredita que Aécio saia na frente pela vantagem nas redes sociais.

“A internet não provoca mudanças no comportamento eleitoral sozinha: todas as eleições que utilizaram tal mecanismo, principalmente a norte-americana para a Presidência, em 2008, combinaram-se a mobilizações presenciais”, ressalta.



Organização

Preocupada com as “mentiras” disseminadas nas redes sociais, a Turma do Chapéu, grupo de jovens universitários de todo o país que contribui voluntariamente para a campanha do PSDB, tenta elucidar as mensagens que são divulgadas sobre o candidato.

Recentemente, o grupo viralizou vídeos feitos por Aécio e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso numa espécie de “direito de resposta contra mentiras”. “Demos a ele um espaço para resposta que antes ele não tinha”, diz um dos fundadores do site, Alberto Lage.

A dianteira conquistada no primeiro turno pela candidata do PT, Dilma Rousseff, não significou um “descanso” das atividades nas redes sociais. O site Muda Mais, ligado à campanha da presidente, tem página no Facebook, perfil no Twitter e no Instagram e grupos de WhatsApp para cada região do Brasil.




Na maior parte das vezes, o material é produzido para o Facebook ou Instagram - pela própria equipe de campanha ou mesmo pelos eleitores. Mas é no WhatsApp que os vídeos, áudios e memes viralizam e provocam simpatia e aversão.

“Apesar de normalmente a gente encaminhar as informações pro mesmo círculo de amigos, eles compartilham com os amigos deles e a rede está formada”, explica a professora baiana Nívea Maria Gomes, de 38 anos, militante do PT.

Para ela, o perigo está nas informações falsas: “As mentiras também correm como rastilho de pólvora. A campanha de Dilma começou a solicitar que fossem feitas denúncias”. Quem também se coloca contra a divulgação de material de ataque ao adversário é o vice-governador do estado e senador eleito pelo PSD, Otto Alencar.

“Eu recebo muitos vídeos no meu celular, mas só compartilho aquilo que fala sobre propostas. Eu não compartilho vídeos que queiram desqualificar candidatos. Pode converter votos se for uma coisa de propostas, de projetos. Quando o vídeo é cheio de acusações e até baixarias, o candidato não ganha nada com isso”, opina.




Movimentação

Para o professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia Wilson Gomes, a campanha nas redes é uma boa forma de segmentação. “A campanha começou primeiro no WhatsApp, antes do que em qualquer outro lugar. A parte de vídeos foi uma coisa assombrosa”, diz.

“Esse tipo de material não serve para produzir novos amigos. É muito antipático. Se tiver alguém que não concorda com isso, ou provoca uma briga ou a pessoa fica quieta”, completa.

Exemplos de corpo a corpo virtual que não deram certo não faltam. O administrador Carlos Muhana, 54, que sempre votou nulo, decidiu votar em Dilma só por protesto contra a avalanche de material pró-Aécio. Já os diretores de cinema César Charlone e Fernando Meireles romperam diante das divergências: o primeiro é pró-Dilma ativo nas redes.



O advogado Igor Ramaiane Silva, 27, que compartilha material do PT nas redes, concorda que a prática agita a militância. “O efeito prático é mais no sentido de animar os apoiadores”, garante.

Mas, apesar do engajamento dos candidatos, o mestrando em Ciência Política pela Universidade de Montreal, Fernando Feitosa, diz que ninguém usou corretamente a internet: “Todos eles utilizam-na como uma ferramenta de comunicação unilateral, um apoio a todas as outras que lançaram mão”.

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